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sábado, 25 de outubro de 2014

À procura do pensamento humano


Desde que comecei a escrever o meu Projeto Garotos, em parceria com a minha melhor amiga, tenho questionado a maioria dos livros. Mas, não faço isso por maldade, muito menos porque soo presunçosa. Nada disso, pelo contrário, tenho refletido muito sobre o que faz um livro Jovem Adulto tornar-se bestseller. .

Nos últimos meses tenho lido enredos que me colocaram em xeque. Li 3 livros da autora Rainbow Rowell; Atachments, Fangirl e Eleanor e Park. Li também o livro que todo mundo não parava de comentar Se Eu Ficar, da Gayle Forman. 



Quero que entendam, antes de mais anda, que não sou a dona da verdade. A minha opinião é exclusivamente minha e, caso você não concorde com ela eu não vou ficar ofendida. Ao contrário, adoro quando as pessoas sabem argumentar e mostrar suas opiniões de maneira educada. 

Pois bem, eu tenho lido muita coisa Jovem Adulta justamente porque o enfoque do meu projeto é para esse tipo de leitor. Eu deduzo que essa faixa etária seja inflamada, pensante e perspicaz. Que não aceite o enredo como algo verdadeiro e único, mas como um material que te impulsione a pensar a respeito. Esse público também já possui uma bagagem maior, como leitor. Logo, eu acredito seriamente que essas pessoas já tenham compreendido o que torna um personagem bom, assim como seu enredo. Entretanto, conforme tentava compreender o que tanto tornava as duas autoras acima citadas como novo ícones literários, sinceramente, me fez ficar muito amedrontada. 

Quando li Se Eu Ficar imaginei algo completamente diferente do que me foi apresentado. Não estou aqui para resenhar a obra. Estou aqui para desenvolver uma linha de raciocínio. Mia entra em coma após um acidente de carro que leva seus pais à morte. Seu irmãozinho é hospitalizado e está em um quadro gravíssimo. A adolescente sabe que está em coma e tem 24 horas para decidir se sai do sono profundo ou se parte desta pra melhor. O problema é que começamos a conhecer a Mia e tudo o que para ela soa como um grande problema existencial: musicista talentosa, apreciadora de musica erudita, com pais apreciadores de rock. Isso, na cabeça da Mia é um enorme problema, fazendo-a pensar que seu gosto musical interfere radicalmente em sua convivência com seus familiares. Serio mesmo que isso é um problema? Pois bem, vou contar uma novidade: adoro musicais da Broadway, musica instrumental, fiz aulas de coral, de teclado, piano e flauta transversal. Meu irmão adora rock, metal. Vocês sabem, tudo que seja uma baita barulheira. Eu gosto também de musicas italianas. Meus pais sempre tiveram um gosto eclético, mas nada que chegasse ao que eu curto. E, quando eu era menor, com uns 11 anos de idade, quando descobri esse meu gosto “diferente”, achei que isso era um empecilho dentro de casa. Todavia, conforme fui crescendo, entendi que nossa diversidade musical não era e nem nunca foi um problema. Eu sempre enxerguei tudo isso como bagagem e reconstrução de uma cultura que pode ser facilmente ampliada. Tá, okay, voltemos ao enredo da Mia. A adolescente tem uma melhor amiga - que até agora não entendi o que cargas d’água precisava fazer naquele livro - além de um namorado músico - rock é um estilo muito apreciado pelas pessoas - que a admira. Mas, o que mais me chamou a atenção foi o fato de que quanto mais a Mia falava sobre sua vida, seu namoro e sua futura faculdade, mais eu me perguntava o que raios a autora queria mostrar. porque eu não via profundidade. Não via aquela coisa bem arquitetada da jornada do herói. Não via nada além de superficialidade. Porque, para ser bem honesta, eu não via problema algum em relação à adolescente, sua família, amigos e o mundo em geral. Não sei se é porque eu já sou adulta, ou se porque quando mais nova sempre fui muito questionadora para a minha idade, mas eu abomino a ideia de uma personagem “perfeita" fingindo ter qualquer tipo de problema e uma crise existencial inexistente. 

Fui então ler a bendita da Rowell e, pelo amor de Deus, eu devia ter parado em Fangirl quando ainda tinha uma visão moderada sobre a autora. Porque eu não sei o que acontece com essa escritora que simplesmente cria todo um cenário, na base da enrolação e, quando você acredita que a coisa toda vai engrenar, na realidade nada acontece e a história acaba. A Rowell tem ideias muito boas. Todavia, não sei se foi só comigo, mas eu tenho a impressão de que ela tem preguiça de investir nos seus próprios personagens, temendo que o livro fique grande demais. Porém, se ela enrolasse um pouco menos, ao menos se cortasse metade das páginas desnecessárias em ambas as obras que li, certamente ela daria ao seu público um gostinho diferenciado de como se constrói uma boa trama. As vezes me pergunto se a ideia dela é exclusivamente criar casalzinhos bobos, fazê-los se beijar e, quando consegue isso já se deu por cansada. Porque parece mesmo que de repente ela cansou de escrever e preferiu terminar a coisa toda de qualquer jeito. De verdade, eu nunca sei o que raios me fez ir até o fim com aqueles três enredos. Mentira, eu sei sim: a esperança de ver uma reviravolta. Algo que nunca acontece, se você ainda quer saber a minha opinião. 

Todavia, o que me assusta é a forma como esses jovens leitores aceitam e veneram obras tão superficiais. Como eles conseguiram gostar de personagens que nada souberam me emocionar, muito menos aprofundar um diálogo gostoso e inebriante. Porque eu tenho aprendido, mesmo que a duras penas, o quanto é complicado criar um personagem, imaginar toda a sua história de vida. Conhecer aquilo que estamos escrevendo requer tempo, paciência e, sobretudo, pequenas pitadas de psicologia, antropologia, sociologia e filosofia. O autor não escreve um personagem: ele escreve uma pessoa. E é isso que tem realmente feito subir pelas paredes. Construir uma pessoa significa, antes de tudo, construir a si mesmo e ao seu meio. É pensar, é lembrar de coisas que um dia, lá atrás, você dizia, pensava e acreditava. É compreender que todo mundo evolui e que isso só conseguimos através dos grandes acontecimentos, sejam eles bons ou ruins. 

Odeio personagens vazios. Odeio ler algo que parecia ter tudo para me agradar e, no final das contas, despencar ladeira abaixo. Não suporto personagens criados de modo perfeito. Porra, eu não sou perfeita! Por que me interessaria em ler sobre alguém perfeito? Não quero me sentir pior do que já me sinto todas as vezes que alguém aponta meus defeitos e recorda-me de que estou longe da perfeição. Seres perfeitos não existem! Logo, por que criar algo irreal? 


Eu não entendo como um público que está saindo da adolescência e caminhando para o mundo dos adultos, ainda prefere escapar para um enredo cheio de perfeição, quando ele mesmo sabe que a vida real não funciona dessa forma. Porque, enquanto lia essas obras, eu queria entender como as pessoas se esqueceram da profundidade das palavras, dos sentimentos, substituindo toda a gama de emoção humana por beijos e sexo. Por Deus! cadê o desejo? Cadê o borbulhar de sensações? Cadê a vontade de conhecer a si mesmo e tudo aquilo que te atrai em alguém, ou que te dá prazer? Onde estão argumentos, opiniões e transformações? Quando um texto deixou de ser ferramenta para a criação do pensamento humano?


4 comentários:

  1. Aleluia! Finalmente um texto que não emane condescendência ou que esteja temperado com cinismo do mais vagabundo, ao abordar o assunto. Parabéns pela coragem.
    Escrevi um texto para o Tiny Little Things que apenas arranha a questão e, ao que tudo indica, fui entendido como pedante. It's a fucked up world. Pode ser acrimônia de minha parte, mas essa nova onda de literatura jovem e filmes decorrentes dela, em síntese apertada, é um porcaria. Me desculpe a sinceridade. Sim, deve haver exceções, mas então que as separemos do bolo com a devida pertinência, clareza e argumentação apropriada. Talvez eu seja apenas um cara de meia idade que acredita que jovens merecem estórias mais bem construídas, mais bem escritas e com protagonistas que sejam melhores "modelos" do que os que temos encontrado hodiernamente.
    Francamente, é um pouco deprimente ver como as pessoas embarcam em qualquer insípido "coletivo" meia-boca que para no ponto. Isso não me dá muita esperança quanto ao futuro da mídia. Por enquanto o que tem aparecido nesse segmento e sido vendido como mariola no sinal, é mesmice e paternalismo literário. Estórias de amor tipicamente sexistas, com personagens invariavelmente unidimensionais que são, ou impossivelmente bons ou ridiculamente maus. Eu acredito que todos merecem coisa melhor. A culpa é minha mesmo. Não é das estrelas.
    Novamente, parabéns. :)

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    1. Muito obrigada!!!
      Acho que não esperava um comentário tão bom quanto o seu. Quer dizer, as pessoas pouco questionam e, sinceramente, eu não tinha pretensão de receber um comentário nesta postagem.
      Eu queria entender o que leva um público jovem adulto a aceitar qualquer tipo de proposta superficial. Quer dizer, na minha cabeça, essa geração deveria ser a mais rebelde. Deveria ser aquela que não aceita tudo que lhes é apresentado. Quer dizer, até agora eu não entendi o que raios a autora de Se Eu Ficar queria propor com a falta de conteúdo na obra. Quer dizer, como as pessoas podem ver conflito em algo tão superficial?
      Minha amiga e eu estamos engajadas em um projeto jovem adulto mas, diferente do que temos lido por aí, estamos empenhadas em sair dessa mesmice. E, preciso admitir, isso tem dado trabalho. E, começo a questionar se o fato de algo requerer mais trabalho não seja, no final das contas, o grande problema desses novos escritores: criar personagens e enredos é tão complicado que deixar de qualquer jeito é muito mais fácil. Porém, isso ao mesmo tempo que me revolta me assusta. Quer dizer, dá a impressão que você pode escrever qualquer lixo que essa geração aceita e ainda aplaude de pé. De verdade, o que raios está acontecendo com essa geração?
      Os leitores precisam entender que bons personagens, assim como boas obras literárias requer complexidade, conflito e, sobretudo resolução. A graça de um personagem é sua complexidade, quando você não entende até que ponto uma pessoa é boa ou má, ou até mesmo como o ser humano é mutável, podendo ser facilmente corrompido por seu meio.

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  2. Olá,te indiquei para uma tag lá no meu blog,dá uma olhada lá e se responder me avisa
    Portal do mundo

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  3. Olá, parabéns pelo blog!
    Estou te seguindo, podes dar uma passadinha no meu blog também?
    http://sacoliterario.blogspot.com.br/

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